Inúmeras vezes me escrevem a relatar como o filho ou filha não come sopa e que isso causa uma grande preocupação e ansiedade nos pais. Por isso, resolvi escrever este post, não só para tentar perceber as causas da rejeição da sopa, como para tranquilizar sobre o facto de não comer. 

A sopa é cultural

Em primeiro lugar, a sopa é cultural, é um hábito nosso português. E que maravilhoso hábito é este. Começamos as nossas refeições com uma boa porção de vegetais e água, tão importantes para o nosso organismo. Mas a sopa é isso mesmo: vegetais e água (sal e azeite), nada mais. 

Há muitos países com dietas riquíssimas e variadas que não comem sopa. Porque consomem os vegetais e a água noutras formas, mantendo assim a ingestão diária recomendada.

Concluindo, se a criança não come a sopa, garanta que ingere uma grande variedade de vegetais noutras formas e refeições. Pode acrescentar vegetais no pequeno-almoço, lanche e snacks, em palitos ou batidos.

Mas afinal, porque o meu filho não come sopa?

Sendo a sopa tão enraizada na nossa cultura, faz todo o sentido que seja um dos primeiros pratos a oferecer aos bebés quando começam a alimentação complementar, por volta dos 6 meses.

Por volta dos 6 meses

A rejeição da sopa mesmo no início da alimentação complementar é normal. O paladar do bebé tem uma preferência pelo sabor doce, a que tem vindo a ser habituado e a sopa contraria essa preferência. Requer alguma paciência e persistência em que o bebé experimente diferentes sabores e se comece a habituar a eles. 

Também, alguns bebés estão mais interessados em comer pela sua própria mão, em vez de serem alimentados à boca. Eu tive um bebé desses e a forma que encontrei de o alimentar foi mesmo dando-lhe essa autonomia. A sopa dava através de colheres pré-carregadas com muitos vegetais ao lado para pegar e comer sozinho. 

Podem ver como cortar e cozinhar os alimentos de forma adequada para bebés de 6 meses no meus e-books.

Depois dos 6 meses

Acontece muitas vezes as famílias tomarem a sopa como único alimento a oferecer ao bebé para além do leite, usando-a como veículo na introdução de vários alimentos. 

É importante, que antes dos 8 meses, o bebé tenha contacto com alimentos aos pedaços ou aos grumos, de forma a incentivar a sua mastigação. Alguns bebés dão sinais disso, rejeitando a sopa perfeitamente liquefeita, mostrando que querem e estão prontos para pratos com grumos ou pedaços na sua mão.

Algumas sugestões de pratos:

Depois dos 12 meses

Depois dos 12 meses, o apetite dos bebés tende a diminuir, devido ao abrandamento do seu crescimento. Este fenómeno tem o nome de anorexia fisiológica do 2º ano de vida e é perfeitamente normal acontecer. Os bebés começam a comer menos, ou a rejeitar por completo pratos e refeições. 

Uma das vítimas normalmente é a sopa. Como referido acima, se o bebé consumir um bom aporte de vegetais noutros pratos e refeições, não é motivo de preocupação.

Depois dos 2 anos

Por volta dos 2 anos, os bebés, agora crianças, começam uma nova etapa de desenvolvimento pessoal e emocional. E a alimentação é uma das grandes afectadas neste novo processo.

A seleção e rejeição de alimentos é a característica principal, e até alguma fobia da comida. É comum as crianças comerem um alimento num formato e não comerem noutro, ou mesmo insistirem que só querem alimentos de uma cor só.

O que fazer quando a criança não come a sopa?

O que não fazer

A primeira regra é não obrigar. Obrigar uma criança a comer o que não quer conduz a uma repulsa maior em relação ao alimento ou prato. Deve-se sim incentivar a comer, sugerir que escolha a taça, ou a colher com que quer comer, se prefere comer sozinho ou dado pelo adulto.

Em segundo lugar, não recompensar. Discursos como “se comeres a sopa toda, ganhas um prémio”, não é positivo nem construtivo para a criança. O acto de comer não deve ser motivo de prémios. 

Também não castigar, por não comer a sopa. Só vai aumentar a frustração na criança, saber que vai ser castigada por não comer uma coisa que não deseja naquele momento. 

O que fazer

Uma das formas que os bebés e crianças se sentem mais seguras em comer determinados alimentos é comendo-os do prato dos adultos. É um instinto biológico: “se o adulto come e não fica doente, é seguro para mim”. Portanto pode oferecer a sopa, ou qualquer outro alimento do seu prato, vai gerar maior confiança no bebé.

Também, pode oferecer os vegetais inteiros ou nos pratos, para manter um bom aporte destes. Não se esqueça que o pequeno-almoço, lanche e snacks são ótimas oportunidades para incluir alguns vegetais, como por exemplo:

Convidar a criança a participar na confecção da sopa, é uma forma da suscitar a curiosidade da criança. Ela acaba por provar os ingredientes e perceber como a sopa é feita. Convide-a a escolher um vegetal no mercado que ela goste, e inclua-o na sopa.

Se a criança está numa fase em que rejeita a sopa, diminua a quantidade servida. Normalmente as crianças sentem-se mais motivadas em comer determinado alimento, se for em pequena quantidade e eventualmente pedem para repetir. 

Pode, também, servir a sopa com algo que a criança goste muito. Algo para por por cima, ou usar como dip (por exemplo pão). A minha filha mais velha, teve uma fase que só comia se houvesse cogumelos na comida. Basicamente salteava cogumelos para por em cima da sopa dela, por ser grande apreciadora destes.

Poderá interessar: