Já não bastava ter que passar pela introdução da alimentação complementar, que em alguns casos pode ser muito complicado, a anorexia fisiológica do 2º ano de vida, que põe alguns pais loucos, há ainda o food jags

Estão a ver ali entre os 2 e os 4 anos, quando as crianças começam a ter consciência delas próprias, enquanto indivíduos, quando começam a perceber que podem tomar decisões e ser independentes? Pois então, é nesta altura que muitas crianças passam pela fase do food jags, que se caracterizam por uma selectividade alimentar, e/ou aversão a alimentos. 

Ao contrário da anorexia fisiológica do 2º ano de vida, em que se nota uma perda drástica no apetite da criança, no food jags isso não acontece de forma tão evidente. Contudo, denota-se vários “sintomas”. Se estivermos perante um caso de selectividade alimentar, a criança tende a restringir as suas opções a uma família de alimentos, ou cor, ou outra característica. No caso da aversão a alimentos, a criança mostra muita relutância em provar e comer certos alimentos. 

Cá em casa tivemos um caso destes: a Tete. Já vos falei como por momentos achei que ela não gostava de vegetais. Na altura ainda não estava familiarizada com o termo food jags e só na consulta dos 3 anos e meio com a pediatra, percebi que era uma fase normal nas crianças com a idade da Tete. Ao investigar de forma mais profunda, descobri o food jags.

Soube do caso de uma menina que só comia alimentos brancos! Tudo o que tivesse cor, ou nuance de cor era totalmente rejeitado. Este é um caso de selectividade alimentar. 

No caso da Tete tinhamos ambas selectividade alimentar e aversão a alimentos. Ela preferia claramente alimentos ricos em hidratos de carbono, como o arroz, a massa, as batatas. Acho que a dada altura o prato de sonho dela era arroz com massa! Também tinha muita relutância em comer legumes, como cenouras, brócolos, feijão verde, couve-flor, etc, ou leguminosas. Foi um longo exercício de paciência para mim. Tentar perceber o que se passava e como podia tornar aqueles alimentos mais atractivos para ela. Mas só o tempo resolveu. Só o seu crescimento, a definição da sua personalidade e a compreensão da família, fizeram com que a Tete voltasse a comer de tudo.

Dicas para lidar com o food jags

A postura dos cuidadores perante o food jags deve ser de transição. É uma fase, que com o crescimento da criança irá passar. Não se devem tomar opções ou ter reacções que prejudiquem a relação da criança, após esta fase.

  • não certificar o “não gosto” da criança. Quando dizem “não gosto” não quer dizer que não gostem. Estão apenas simplificar a comunicação. Dizermos que eles “não gostam” de determinado alimento, é confirmar junto deles a sua opção e dificultar que isso seja revertido.
  • não forçar a criança a comer, quando mostra que não quer. A não ser que note alguma consequência na saúde da criança por não comer determinado alimento, não deve obriga-la a comer, ou castiga-la por não comer.*
  • não deixar de oferecer os alimentos que a criança nega, e consumi-los com frequência em casa. As crianças funcionam por imitação, se a sua família consumir regularmente alimentos que a criança rejeita, eventualmente ela acabará por aceita-los.
  • não encha a criança com alimentos que prefere no intervalo das refeições. O objectivo é que a criança acabe por se alimentar da mesma forma que a família. Assumindo a pretensão de apenas alimenta-la de qualquer forma que seja, estará a criar momentos em que a criança não terá tanto apetite à hora da refeição e aumentará a negação a comer.
  • não encha demasiado o prato. Pratos com grandes quantidades de comida, oferecem a quantidade certa do alimento que a criança prefere, preenchendo o seu apetite para o restante. Porções mais pequenas de comida, levarão a criança a comer de outros grupos, que não sejam tanto do seu agrado. Também, pode sempre reforçar, que só poderá repetir o alimento preferido, se comer a porção do alimento que não quer. Se esta quantidade for pequena, a criança será mais receptiva a fazê-lo. 
  • perceber junto da criança como podemos tornar o alimento mais atractivo para ela. Pode ser uma forma de o cortar, de o empratar, do tipo de colher ou garfo que a criança prefere usar. A ideia é transpor a pressão da decisão na forma como a criança vai comer (comer assim ou assim) e não na opção de comer ou não. 
  • não criar momentos de tensão à mesa. É normal nas crianças que passam por esta fase, que hajam “birras” para comer. O ideal serão não fomentar ou alimentar essas birras e frustrações. 

O que vos posso dizer da minha experiência pessoal, é que é uma fase passageira. Eventualmente, mesmo as crianças mais “picuinhas” vão ultrapassar e comer o mesmo que a restante família. É uma fase que requer muita paciência, compreensão e disciplina da família, para ultrapassa-la com toda a calma possível.

Hoje a Tete come praticamente tudo, que nós comemos, não me ocorre nada que ela não comia durante o food jags e coma actualmente. A fase foi superada!

* se notar complicações na saúde da criança por causa da sua selectividade alimentar ou aversão ao alimento, deve consultar um médico competente.

Referência: https://www.healthline.com/health/food-jags