Queria falar sobre isto desde que li que os bebés sentem o sabor de comida ainda dentro da barriga da mãe. Sabiam que a relação do bebé e a comida começa tão cedo? Pois é, um estudo mostrou que os bebés conseguem experimentar partículas de sabor no liquido amniótico e depois no leite materno.

Gravidez e aleitamento do bebé

Eu fiquei fascinada quando li sobre isto no estudo “Prenatal and postnatal flavor learning by human infants”. Basicamente os cientistas reuniram uma série de grávidas que tencionavam amamentar os seus bebés e distribuíram em 3 grupos:

  1. consumiam 300ml de sumo de cenoura, durante 4 dias por semana, num período de 3 semanas do terceiro trimestre, e água durante o aleitamento;
  2. consumiam água durante a gravidez e 300ml de sumo de cenoura, durante 4 dias por semana, nos dois primeiros meses de aleitamento;
  3. grupo de controlo, beberam água tanto na gravidez como no aleitamento.

4 semanas depois de os bebés começarem a alimentação complementar, com papinhas de cereais simples (sem frutas ou vegetais), foram oferecidas 2 papas: uma simples, igual à que estavam habituados e outra de cereais feita com sumo de cenoura. Os resultados foram surpreendentes:

  • os bebés do grupo três não mostraram diferença entre as duas papas
  • os bebés que tinham sido expostos ao sabor da cenoura na gravidez ou aleitamento, mostraram maior satisfação em comer a papa de cereais e cenoura.

Os cientistas concluíram que os gostos culturais e étnicos dos bebés e crianças começam mesmo na barriga da mãe. Este é mesmo o ponto zero para estimular o paladar dos nossos bebés.

O bebé e a comida na alimentação complementar

Apesar de o bebé contactar com sabores desde muito cedo, é na alimentação complementar que o contacto com a comida se dá verdadeiramente.

Hoje em dia vigoram duas correntes de desmame, igualmente válidas. Por um lado, uma abordagem tradicional, em que o cuidador do bebé define as refeições de comida e de leite que o bebé vai fazer, substituindo as últimas pelas primeiras, gradualmente. Outra abordagem é guiada pelo bebé (ou baby-led weaning), em que a comida é exposta de forma apropriada à sua idade e é este que decide quando e quanto comer, tendo sempre o leite, materno ou adaptado, como base da sua alimentação. Ambas as abordagens são válidas. Contudo, há um conceito muito simples que deve imperar em ambas: quantas mais oportunidades oferecermos ao bebé para explorar a comida de forma autónoma, mais informação ele recolherá de cada uma das suas experiências.

Um exemplo simples. Um bebé ao qual é oferecido um puré de cenoura à colher, apenas irá apreender o sabor desse puré. Por outro lado, um bebé ao qual é oferecido um palito de cenoura cozida, em tamanho e consistência apropriadas, tem a oportunidade de apreender a cor, consistência, cheiro e o sabor dessa cenoura. Iniciará uma experiência altamente sensorial, em que construirá uma base de dados que o vai ajudar a identificar alimentos, associar cores, formas texturas e sabores, e perceber se os consegue mastigar e deglutir. Quantas mais oportunidades de aprendizagem dermos ao bebé, mais informação e mais rapidamente ele recolherá, e começará assim a construir a sua relação saudável com a comida.

Portanto, uma abordagem de desmame não se sobrepõe a outra. Ambas têm espaço para que o bebé aprenda a comer de forma consciente e saudável.

Como oferecer alimentos ao bebé?

A criança e a cozinha

Depois de experimentar sabores na barriga da mãe e amamentação, de experimentá-los na alimentação complementar, este percurso culmina com a criança na cozinha! Este é um passo fundamental na relação da criança com a comida, pois é onde aprendem de onde tudo vem e como tudo é preparado. Mas também é um alimentar de curiosidade que as crianças naturalmente têm pela comida. Ou, por outro lado, despertar essa mesma curiosidade, se esta não cresceu anteriormente.

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