Há muito que me deparo com esta questão. O que move uma pessoa a criar estratagemas para obrigar um bebé a comer? Para mim, obrigar vai mais além de segurar braços, forçar a boca do bebé a abrir e empurrar comida lá para dentro. Ou mesmo, como já ouvi, encher seringas de comida e colocar no fundo da boca para que engulam (isto é verídico!). E a minha pergunta é, o que justifica isto?

Não precisamos de nos dividir nas diferentes abordagens de introdução da alimentação complementar. É certo que com o BLW há menos risco e tendência de forçar o bebé a comer. Mas é possível manter uma posição respeitadora perante o bebé, numa abordagem tradicional. E na minha opinião, tratando-se de um bebé saudável, não há motivo para que seja obrigado a comer, com que idade for. 

Vejo a alimentação como uma etapa de desenvolvimento do bebé, que depende mais dele do que nós. Faz-me alguma confusão que decidamos um dia e uma hora, para que o bebé comece a comer. Nós não decidimos a data em que começam a gatinhar, ou andar, ou a falar. Vamos dando as ferramentas necessárias e todo o apoio, para que cada bebé, no seu tempo, chegue lá. Nunca obrigamos um bebé a andar, ou a repetir palavras. Aliás, nestes processos de aprendizagem, há dias em que eles se esforçam mais para andar, outros menos, outros que andam vários metros, outros que nem dois passos querem dar. E nós? Nós não conseguimos fazer nada a esse respeito, sinceramente. Esperamos, respeitamos e vamos continuando ali por perto, a assegurar que podem contar connosco, quando se sentirem preparados.

Para mim, a alimentação é igual. Há dias que comem como se o mundo fosse acabar, outros que petiscam e rejeitam tudo o que lhes pomos à frente. Há bebés que estão prontos a comer mais cedo que outros. Há bebés que demoram mais tempo a querer comer e a conseguir comer. E nós? A nós cabe-nos guiar-nos pelas pistas que os bebés nos dão, dar-lhes todo o apoio que necessitam. Para mim, nada justifica, que se faça “trinta por uma linha”, para que um bebé coma bem naquele dia, se isso irá comprometer a sua relação com a comida a médio e longo prazo. 

É certo que vivemos uma certa pressão de vários pontos. Ou porque temos de trabalhar e o bebé tem de ficar ao cuidado de alguém, e por isso tem de comer. Ou porque as escolas assim o exigem (sim, há escolas que só deixam bebés entrarem se já comerem à colher). E nós, vamos deixando levar-nos por estas exigências. E pensam vocês “tu pudeste ficar com o teu bebé em casa, não sabes do que falas”. Posso não saber, mas imagino e sinto a angustia, pelas mensagens que recebo diariamente sobre este tema. 

Mas o que gostava de deixar como reflexão com este post, é que devemos abordar a alimentação de um bebé ou criança, como uma etapa natural do seu crescimento e desenvolvimento. Que o nosso papel é criar todas as condições, para que esta etapa se processe de forma segura para o bebé. Darmos as nossas mãos, quando eles nos pedem ajuda para andar, ou colocar uma mão nas costas, quando dão os primeiros passos, para aparar as suas quedas. Estar ali, presente, para todo esse mundo novo que se abre para eles. Se pensarmos assim, acredito que ouviremos mais histórias de sucesso de bebés a comer, do que histórias de frustração e angústia dos pais.

Vamos deixar os mililitros e os miligramas de lado, as datas, as horas e os intervalos, e apreciar os nossos bebés a aprenderem e a explorarem todo um mundo novo de sabor, cor e texturas, que é a alimentação!

 

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