Hoje estou “avessa”. Há dias assim, mas nem todos os dias venho para aqui desabafar. Contenho-me, guardo para mim estas angústias e protejo-me por detrás deste ecrã que nos separa. Hoje quero escrever sobre isso, expor-me mais um bocadinho para todos vocês, que me lêem e me acompanham há tantos dias, meses, ou anos. 

O blog nasceu numa altura em que eu estava desempregada. Não o criei com o intuito de fazer dele um negócio. Queria só partilhar algumas receitas com umas amigas e registar a jornada da minha família, no sentido de uma alimentação e estilo de vida mais saudáveis. Vieram os workshops, o livro e as coisas começaram a tornar-se mais sérias. Podia fazer dinheiro com isto? Entretanto arranjei trabalho e durante vários meses trabalhei, mantive o blog (a meio gás), preparei um livro, e a minha vida pessoal e familiar. 

Por um momento achei, que podia viver disto. Tirar um ordenado, um verdadeiro ordenado, que pagasse as contas e as despesas da minha casa e família. Mas não passa tudo de desejos e ambições minhas. Pois a verdade é que o blog, o blog mesmo, não me dá qualquer rendimento. Zero euros. Sim, tiro um pequeno rendimento dos workshops que faço, mas estes dão muito trabalho a serem pensados, preparados e realizados. Quem faz workshops deste tipo, vai concordar comigo, ficamos completamente drenados. O livro também dá algum dinheiro, mas não sustenta uma casa (necessitaria de muitos e muitos livros para isso). Mas o blog em si, as receitas que experimento e publico, dão na realidade zero euros.

Desde Dezembro, que fiquei desempregada. Foi um misto de sensações. Por um lado dar-me-ia tempo de me dedicar integralmente ao blog, de o fazer crescer e atingir as metas que ambiciono para ele. Por outro lado, era um salto para o abismo, para a incerteza. Tenho três filhos em quem pensar, não me dá muita margem de manobra para grandes riscos. 

Ter um blog não é sinónimo de dinheiro. De longe. E sim, recebemos algumas ofertas, para experimentarmos e opinarmos. Mas infelizmente não posso pagar a conta do supermercado com esses presentes. Ter muitos seguidores, muitas visualizações, não é sinal que somos pagos pelo nosso trabalho a criar conteúdos, no meu caso, receitas e artigos relacionados com alimentação. E é cada vez mais difícil conseguir que isso aconteça, pois todos os dias surgem novos blogs e páginas, que nos afastam cada vez mais das pessoas que nos podem efectivamente pagar pelo que fazemos. É muito desmotivador e frustrante, para quem trabalhou tanto para chegar onde chegou. 

Como desempregada e inscrita no centro de emprego, tenho deveres. Um deles é candidatar-me a empregos com uma certa regularidade. E dou por mim, a enviar currículos nas minhas áreas de especialização e a desejar ser chamada, ser entrevistada e ser aceite. Voltar a ter um trabalho, das 9h-17h. Chegar a casa e conseguir deixar o trabalho do lado de fora da porta. Confesso, tenho saudades disso.

Mas este desejo tem implicações, que será mais uma vez deixar o blog para segundo plano (ou terceiro, ou quarto) da minha vida. Porque simplesmente não consigo fazer tudo. Não sou a super-mulher, que muita gente acha que sou. Tenho limites e com o tempo aprendi a conhece-los e a aceita-los. 

Nunca seria capaz de abandonar o Na Cadeira da Papa. Nunca. Mas é bem possível, da forma como penso  (e me sinto) hoje, que deixe de ser a minha prioridade profissional e que me dedique a outras áreas mais estáveis. Por mim e pelos meus filhos. 

Hoje estou “avessa”. Um dia vai chegar, que terei de tomar uma decisão. Só posso garantir, que isso será bem visível e perceptível por aqui…