Um tema pedido por alguns leitores, mas que tenho vindo a adiar. Este post é sobre a minha experiência com a amamentação dos meus três filhos, com os desafios e aprendizagens.

Se me seguem, sabem que não me manifesto muito em relação a este tema, pois compreendo que é algo que só a cada família diz respeito. Sou a favor da amamentação, não tenho nada contra quem não amamenta, por não querer, ou não poder. Não sou activista da amamentação. Incentivo, na medida que posso, sem me sentir demasiado “invasiva” na vida das pessoas.

A minha posição em relação à amamentação é muito clara. Envolve 2 partes, com os interesses e conforto de cada uma: o bebé e a mãe. Penso que do ponto de vista do bebé, este merece o melhor alimento, que é, sem sombra de dúvida, o leite materno. E admito que parte da minha experiência com a amamentação se apoiou muito nessa ideia: “estou a dar o melhor alimento que posso ao meu bebé”. Muitas vezes duvidei, muitas vezes pensei que não aguentava, e que queria parar. Mas tentei colocar-me na pele daquele pequeno ser, e ganhei coragem para continuar a alimenta-lo e a nutri-lo, não só fisicamente, mas também emocionalmente. E se não é isto mesmo a maternidade: colocar os nossos filhos à frente de tudo?

A minha experiência com a amamentação passa pelo tipo de parto que tive

Para mim era imperativo amamentar. Tive todos os meus filhos por cesariana. Foi o parto que eu nunca sonhei e que teve de acontecer (por incompatibilidade feto-pélvica). Na primeira cesariana, senti-me uma mãe incapaz. Eu que lutei tanto por um parto normal, estive horas em exercícios no dia em que a minha filha nasceu, acabei imóvel numa marquesa, sem poder participar activamente no parto dela. Senti-me abandonada pela minha natureza humana. Foi algo que só consegui resolver emocionalmente, 2 anos depois, com o nascimento da minha segunda filha.

Completamente derrotada, por aquilo que tinha idealizado ser o início da maternidade, o meu único foco naquele momento era a amamentação. Teria que ser exímia nessa réstia de natureza que ainda me sobrava. A pressão que coloquei em mim foi demais e em poucos dias (poucas horas), comecei a vacilar. Mamilos rasos, a bebé não pegava e estávamos as duas exaustas de um parto difícil.

Valeu-me a enfermeira Maria José, uma pessoa que guardo no coração para sempre e que salvou a amamentação dos meus 3 filhos. No dia da minha alta, quando só queria sair dali para fora (ficámos 5 dias internadas, mas isso fica para outro post), pedi que desse um biberão de leite à Luísa, para ela ficar mais tranquila e irmos para casa. Ela pegou em mim, como uma mãe pega na filha debilitada ao colo, sentou-me na cama e olhou-me nos olhos “quer amamentar?”, acenei que sim, “então vai para casa, vai tomar um banho, vai colocar-se confortável com a sua bebé, e vão as duas resolver isto, as duas sem mais ninguém. Se precisar de ajuda, tem o meu número, estarei deste lado para a apoiar.” E fui. Fiz o que a Enfermeira Maria José me disse, e eu e a Luísa resolvemos esta coisa da amamentação pelos 9 meses seguintes.

Doeu, fiz gretas, mamas tensas, mastites e tudo mais. Chorei de dor e de frustração. Mas tinha que continuar a tentar. Para mim, foi importante ter conseguindo, sobretudo, depois de me sentir uma falhada no parto (sentimento que já tenho bem resolvido em mim também). 

Amamentação e suplementação

Amamentei a Luísa durante 9 meses e não foi em exclusivo. Desde os 2 meses que suplementei algumas refeições com leite de fórmula, por desinformação e insegurança da minha parte. O que é certo é que esse biberão de leite que não era meu, me deu confiança e permitiu que eu continuasse a amamentar até aos 9 meses da Luísa.

O desmame deu-se pelo constante desinteresse da Luísa por mamar. Já não mamava de noite desde os 2 meses de idade (ainda hoje é muito dorminhoca). Chegou uma altura que ela nem pegava, ficava ali deitada a olhar para mim e resolvemos que tinha chegado ao fim. Só mais tarde ouvi falar do falso desmame dos 9 meses e se tivesse mais informação e insistido mais, talvez tivesse durado mais alguns meses.  

Cada filho, a experiência com a amamentação é diferente

E podia dizer que depois da minha experiência com a amamentação da Luísa estaria preparada para os filhos seguintes, mas não. São todos diferentes e com todos aprendemos coisas novas. A Teresa foi um bebé que nasceu a saber mamar, mamou assim que saímos do bloco operatório e correu tudo relativamente bem. Não me livrei das fissuras e das dores, mas a recuperação foi muito mais rápida, que da primeira vez. 

A Teresa ganhava peso a olhos visto e nunca viu um biberão na vida, até deixar de mamar. Foi amamentada em exclusivo até aos 6 meses e desmamou com 12 meses. Foi com ela que aprendi que era possível amamentar em exclusivo e sem ajudas de leite de fórmula! Contudo, sempre foi uma bebé muito interessada em comida, logo que introduzimos a alimentação complementar. Com poucos meses desinteressou-se da mama de manhã, com olhos postos no que seria o pequeno-almoço. Com um desmame nocturno cedo (dormia a noite toda desde os 2 meses) e este desinteresse, os meus esforços para continuar a amamentar terminaram aos 12 meses. Ainda ofereci depois disto, mas ela dava uma trinca no mamilo e ria-se. 

Com o Francisco aprendi o conceito “livre demanda”. O Francisco era um bebé que mamava de hora a hora e parecia nunca estar satisfeito. Um autêntico “piercing de mamilo”. Dos 3 foi o que mamou mais, em número de vezes por dia e em longevidade. Tem quase 22 meses e ainda mama, apenas de manhã e antes de dormir, quando ele pede. Não pede mais nenhuma vez ao longo do dia. Julgo que o desmame estará próximo, mas aguardo tranquilamente por ele, como fiz com as irmãs. 

Conselho

Cada bebé é um bebé, cada mãe é uma mãe e cada combinação de bebé e sua mãe é diferente. A amamentação não é linear, nem preto ou branco. É cheia de nuances e variáveis, que só quem está dentro da relação bebé/mãe as saberá. Mas não têm que percorrer este caminho sozinhos. Se querem mesmo amamentar, tenham a vossa “Enfermeira Maria José” convosco. Não só aquela que vos apoia tecnicamente na amamentação, mas também aquela que vos senta na cama, olha nos olhos, e faz a prep-talk, que vocês necessitam para conseguirem. 

O meu muito obrigada à “minha” Enfermeira Maria José, por 43 meses de amamentação dos meus 3 filhos (and counting).