As circunstâncias actuais obrigam-nos a seguir com as nossas vidas em moldes nunca antes vistos. De repente, é pedido que se passe a trabalhar em casa com crianças, mas não só, que se dê o devido apoio académico a essas crianças e o apoio emocional que tanto precisam nesta fase. Parece um trabalho de super-herói, quase irrealista de ser atingido com sucesso.

Eu trabalho em casa desde 2012. Nem sempre o blog foi a minha ocupação, mas fui tendo outras actividades, cujo trabalho era realizado a partir de casa. E fizeram bem as contas, desde que trabalho em casa, trabalho acompanhada pelos meus filhos (todos entraram para a escola com 1 ano e meio).

Apesar de mais ou menos preparada, o desafio agora é diferente: não há sestas para aproveitar, há duas miúdas para ajudar com tarefas da escola e três crianças a viverem uma época sem precedente, onde não podemos ir onde nos apetece, nem estarmos com as pessoas que amamos. 

Trabalhar em casa

Começando pelo princípio. Trabalhar em casa tem os seus contornos muito específicos. Eu organizo o meu dia de acordo com a minha disposição. Sei que de manhã sou mais criativa e consigo maiores períodos de concentração. Por isso, deixo as tarefas mais exigentes para quando acordo, como o planeamento e criação de conteúdos. O final do dia é pontuado com as tarefas de produção, que não exigem tanto a mim, como cozinhar, fotografar, editar fotografias, ou responder a e-mails.

Contudo, trabalhar a partir de casa levou a repensar a forma como trabalhava. Sem dúvida que trabalhar num meio cooperativo tem as suas nuances que não se aplicam ao trabalho remoto, e vice versa.

Acho que o primeiro passo para um trabalho a partir de casa de sucesso é não tentar encaixar os mesmo princípios de trabalho cooperativo nesta nova caixa. As circunstâncias são diferentes e isso deverá ter-se em conta. 

Penso que este será um momento de viragem na forma de trabalho das pessoas e espero que se recolham frutos desta experiência.

Trabalhar em casa com crianças

Trabalhar em casa com crianças ganha uma outra dimensão. É utópico acharmos que vamos ter longos períodos de trabalho interrupto, para longas tarefas que exigem a nossa concentração. Mesmo que não seja este trabalho ou aquela actividade da escola, é uma criança a lidar com uma vida que até agora desconheceu e que precisa do nosso apoio e de um nós a 100% para ela. 

Para mim, este tem sido o grande desafio. Se consigo por 3 crianças a fazerem uma actividade por 1h para escrever um post? Consigo. Mas a que custo e de que forma isso transmite um mínimo de normalidade aos meus filhos neste cenário? Não sei responder. 

Por isso, optei por alojar um grande bloco de trabalho antes de eles acordarem e de me entregar na totalidade a eles durante o dia. Actualmente acordo às 5h, que me permite um bloco de 3h30-4h de trabalho ininterrupto, onde produzo o máximo de coisas que consigo (hoje até tive uma reunião às 7h com uma pessoa nas mesmas circunstâncias que eu). Deixo pequenas tarefas para ir realizando ao longo do dia, como responder a e-mails, ou responder nas redes sociais.

Entre as 9h e as 21h dedico-me em pleno ao trio-maravilha para responder a todas as suas necessidades, sejam elas físicas ou emocionais (as maiores). 

Neste momento preocupa-me como normalizar esta nossa realidade, se nem sei para que mundo acordo todos os dias. Protejo-os das notícias mais duras, mas tento que estejam conscientes que vivemos uma época nunca antes vivida e que toda a gente está na mesma situação, a lidar mais ou menos bem com tudo isto.

Quando isto tudo terminar

Não vejo os dias que vivemos actualmente tenham um fim. Vejo estes dias como um momento de transição e criação de uma nova realidade e normalidade. Claro que um dia as crianças voltarão à escola e os adultos aos seus empregos. Mas nunca voltaremos aos dias antes de termos ouvido falar do Covid-19. 

As nossas relações sociais serão altamente afectadas e ainda não imaginamos os danos e consequências emocionais com que sairemos desta experiência toda. 

Portanto, o meu conselho, é vivam um dia de cada vez, um desafio de cada vez. O normal agora mudou e já nada será normal novamente. Espero que no meio de todo o meu desabafo no episódio, possa ter sido útil de alguma forma.

Não se esqueçam de subscrever o podcast na vossa aplicação preferida. O podcast pode ser ouvido em: