Há dias esbarrei com este artigo: Dangers of baby led weaning. Como assim perigos do baby-led weaning? Não hesitei em abrir e ler e iniciar um processo de reflexão sobre este tema. Juntando alguns relatos de pessoas próximas e seguidores, percebi que efectivamente a prática de baby-led weaning de forma desinformada pode ser perigoso.

Quais são os perigos do baby-led weaning?

1. Oferta de alimentos não apropriados

Há uma ideia generalizada que no baby-led weaning, o bebé come o que a família come. Bom, mais ou menos. Se a família tem uma alimentação má, muito baseada em alimentos processados, muito açúcar, sal e gordura, então não é ideal que o bebé tenha esse tipo de alimentação. Mas se a família tiver uma alimentação cuidada e variada, com muitos legumes, cereais e fontes de proteínas e gorduras saudáveis, e que cozinhe de uma forma simples e natural, sem açúcar, nem muito sal, faz sentido o bebé fazer parte dessa dieta. 

Outra ideia errada que se tem é que não existem restrições e ordem dos alimentos a oferecer, que se pode dar tudo desde início. Ora, é mais ou menos isto (outra vez). Assume-se que a introdução de alimentos no baby-led weaning é muito gradual, ou seja, os bebés começam por comer muito pouquinho de cada alimento, de cada vez. É completamente diferente um bebé que faz baby-led weaning comer uma nesga de ovo de cada vez, em comparação com um bebé ao qual é oferecido um ovo inteiro triturado num puré de legumes. E isto é importante saber! O organismo do bebé ainda está em maturação e alguns bebés não toleram temporariamente certos alimentos.

Em suma, é importante adequar a alimentação da família ao bebé, optando por alimentos naturais, nutricionalmente densos, cozinhados da forma mais simples possível.

Fazer baby-led weaning não dispensa o acompanhamento de um profissional de saúde (pediatra ou nutricionista), para aconselhamento dos alimentos adequados às necessidades do bebé.

2. Perigo de engasgamento

Sobre este tema eu já escrevi um post completo com todas os cuidados que se devem ter. 

Os bebés engasgam-se? – O reflexo de vómito

Mas nunca é demais relembrar os 3 pontos a ter em atenção para não correr o risco de engasgamento:

  • Primeiro, o bebé tem que conseguir sentar-se sozinho, direito, com ou sem apoio. Esta é a posição que o bebé deve tomar para comer. Uma posição reclinada altera o ponto de gravidade e faz com que a comida vá para o fundo da boca rapidamente, sem que o bebé consiga mastigar devidamente, havendo maior risco do bebé se engasgar.
  • Segundo, deve ser o bebé a levar a comida à boca e não o adulto. Como referido anteriormente, os bebés que controlam o que colocam na boca, levam uma serie de informação, que não conseguem recolher, se formos nós a fazê-lo por eles. Logo ao tacto, o bebé percebe se o alimento é rijo, ou mole, se é um pedaço grande ou pequeno. Aqui percebe o esforço de mastigação, que tem de fazer, e se consegue, ou não, comer aquele alimento. Se o adulto coloca um pedaço de comida na boca do bebé, salta-se uma série de passos no processo, podendo não ser seguro para o bebé.
  • Terceiro, e último, a consistência dos alimentos. É verdade que os bebés não precisam de dentes para mastigar. Eles estão lá, debaixo das gengivas e fazem o seu trabalho mesmo assim. No entanto, há alimentos que não são seguros oferecer, se o bebé ainda não possuir dentição molar. Frutos secos inteiros, cenouras cruas, maçã crua (rija), entre outros alimentos, são de evitar, pois o bebé não os consegue desfazer. 

3. Demasiado sal

Fazer uma dieta baixa em açúcar num bebé, não é difícil, basta não oferecer determinados alimentos. Mas quando o bebé come a mesma comida da família, há uma tendência em abusar do sal, inconscientemente. Uma das sugestões que eu faço nos meus workshops e quando acompanho as famílias, é cozinhar sem sal e os adultos temperarem no prato. Assim garantimos que o bebé não ingere demasiado sal.

As recomendações da Food Standards Agency do Reino Unido é se limitar o sal ao consumo diário de 1g nos bebés dos 6-12 meses e 2g nos bebés do 1-2 anos. * Para terem melhor uma noção de quanto é 1g de sal, corresponde à quantidade média de sal de 1oog de pão (uma fatia média de pão não tem 100g). Temos alguma margem, mas o ideal será mesmo cortar ao máximo o sal na cozinha em  vossa casa. É também uma boa prática para os adultos!

Não temam os perigos do baby-led weaning!

Não vejam este meu alerta como um travão à prática de baby-led weaning. Feito de forma informada e, se necessário, acompanhada por um profissional de saúde, tem tudo para dar certo. Os perigos do baby-led weaning não são resultado da abordagem em si, mas de uma prática mal informada por parte dos cuidadores do bebé.

Recomendo a leitura dos livros da Gill Rapley e da Tracey Murkett, para se informarem melhor sobre esta abordagem e os cuidados a ter. Têm a tradução para português de um dos seus livros:

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*O limite diário de sal recomendado para adultos é de 6g.