Não tenho só uma, mas 3 cesarianas para vos poder falar abertamente sobre como é amamentar depois de uma cesariana. Sempre foi um desejo meu amamentar. Mas também sempre foi o meu receio, depois de tantas histórias que fui ouvindo ao longo da gravidez(es). Pois é, nem ao fim de um, de dois, ou três, ficamos plenamente confiantes que vai correr ouro sobre azul.

Quando estava grávida da Luísa, perguntei à minha obstetra o que poderia fazer naquela altura, para garantir o sucesso da amamentação. Ela respondeu-me: nada! Verdade, deu-me esta resposta. Disse para me preparar psicologicamente para todos os cenários: correr bem, correr mal, o bebé não saber mamar, eu ser das poucas mulheres que não conseguem produzir leite (porque há). Mas se era um desejo meu, procurar ajuda, ajuda de quem sabe, de quem consegue ajudar: uma CAM. 

A Luísa nasceu e naquele momento a amamentação tornava-se uma exigência minha. Depois de ter dado à luz da forma menos natural possível – mas a mais natural que me era possível – tinha que ser bem sucedida na amamentação, ou sentia que não seria “suficiente”. Que pensamento mais idiota, digo-vos já! (malditas hormonas). Adiante. Não foi uma história feliz desde o início. Ela não sabia pegar, não sabia mamar, eu não tinha mamilo formado, não sabia o que estava a fazer, ela também não. Cada enfermeira ensinava à sua maneira e ninguém era bem sucedido.

Valeu-me os sábios conselhos da enfermeira Mara José, que guardo no meu coração para todo o sempre. No dia da alta, desesperada e deserta para sair daqueles 5 dias de tormento, pedi que desse um biberão à Luísa, pois eu estava cansada e não conseguia dar de mamar. Ela olhou-me nos olhos e perguntou se eu queria dar de mamar, que se queria, que iria para casa, que iria tomar um banho, iria pegar na minha bebe, iria cola-la a mim, e que as duas iríamos aprender como se fazia, sozinhas. Não iria pensar em mais nada e iria correr bem, que sempre que precisasse tinha o número dela. Foi preciso muito trabalho meu, muito trabalho da Luísa, muita dedicação, muitas dores, muitas lágrimas, das duas, e conseguimos. 

Chegada a Tete, o mesmo receio: será que vai ser igual à Luísa? Completamente diferente. Confesso que já saber o que iria acontecer ajudou a que não pensasse em demasiado na amamentação. E correu maravilhosamente! Saiu da barriga a saber mamar e assim o fez por 1 ano, até ela deixar de querer. O baby-boy também nasceu a saber mamar, tal como a irmã. Temos sido muito bem sucedidos, com todas as exigências que a amamentação requer: sem horários, sem limites, em livre demanda. 

À distância do tempo penso que a inexperiência na minha primeira filha prejudicou o início da amamentação. Mas acima de tudo pensar demasiado, exigir demasiado de mim e da minha bebé, prejudicou ainda mais. Na verdade, não podemos contar com nada como certo. A amamentação não é exacta, nem previsível. Há demasiados factores envolvidos. Só uma grande convicção, vontade podem alimentar uma amamentação bem sucedida. 

Mas a grande moral que posso deixar é que SIM, é possível com sucesso amamentar depois de uma cesariana, e depois de duas e de três, também. Não sou caso único, tenho várias amigas que conseguiram amamentar depois de uma cesariana. Os bebés nascidos de cesariana sabem mamar, as mães de cesariana produzem leite, tanto como os bebés e as mães dos partos “normais”.

Apesar de não ter dado à luz quando a natureza quis, ou como ela desejou, não impediu que esta fizesse o seu trabalho, para que me fosse possível amamentar os meus filhos, como eu sempre quis. 

Amamentar depois de uma cesariana

Na foto: Luísa com 2 dias de vida.

Como prolongar o aleitamento materno até aos 6 meses?