Comemora-se um pouco por todo o lado o Dia dos Irmãos, data oficial em alguns sítios dos Estados Unidos da América. Cá em Portugal comemora-se no dia 31 de Maio! Mas não interessa. Aproveitei hoje como podia ter aproveitado qualquer outra data para vos falar de como educo os irmãos cá em casa. Eu não tenho irmãos, não sei como é ter irmãos, nem como é lidar com irmãos. Mas desde que dei irmãos aos meus filhos, houve uma coisa muito clara na minha cabeça: não iria ensinar a partilhar! Então ensinar a fazer o quê?

Não tinha ideia nenhuma sobre este tema, quando a Luísa era filha única. Mas assim que a Tete nasceu e tiveram que conviver uma com outra, precisei de delinear uma estratégia de como as educar para que convivessem em harmonia cá em casa. Li muito, falei com muita gente e tomei uma opção: não as iria obrigar, nem ensinar a partilhar.

No que toca a irmãos, parece que é a pergunta que toda a gente faz “e são amiguinhas? partilham os brinquedos?”. É quase como aquela pergunta da praxe do “já dorme a noite toda?”, que se faz às mães de recém-nascidos. Sim, as minhas filhas partilham brinquedos e dificilmente distinguem quais são os brinquedos de quem. Mas não, nunca as obriguei, nem ensinei a partilhar brinquedos uma com a outra.

No início da sua interacção, tinha a Tete uns 15 meses, era hábito a pequenita tentar roubar os brinquedos à irmã, não tendo a noção do que isso era. Quando a mais velha fazia frente e não lhe dava os brinquedos, a pequenita gritava e chorava. Qual seria a nossa reacção primitiva? “Oh, empresta o brinquedo, para a Tete não chorar…”. E qual a consequência disso? A mais pequena perceberia que se chorasse e gritasse o suficiente teria o que queria. A mais velha ficaria frustrada por ter que ceder o seu brinquedo, só porque a irmã gritou e chorou mais que ela. Acima de tudo, aprenderiam que era uma questão de quem gritasse e chorasse mais. Não era de todo o que pretendia!

Também não queria que elas achassem que toda a gente é obrigada a partilhar tudo o que têm, ou o que elas querem. Não quero que pensem que se chorarem e gritarem o suficiente, eu irei partilhar o meu telemóvel, ou o meu computador, ou o meu livro preferido. Quero que me peçam e quero que percebam quando eu não quero, ou não posso emprestar determinado objecto, não sou obrigada a fazê-lo. Se o quero que o façam comigo, faz sentido que façam uma com a outra. 

Foi assim que as primeiras palavras que a Tete, a pequenita, aprendeu a dizer, foram: “mana, emprestas-me por favor?” E com isto aprendeu também, que quando a irmã não quisesse emprestar, ela teria que respeitar. Assim como tinha o direito de exigir esse respeito, quando a irmã pedisse um brinquedo emprestado. 

Podia dizer que isto funciona às mil maravilhas e a 100% do tempo, mas não. São crianças, há dias que estão aborrecidas, ou cansadas, e nesses dias quem grita e chora mais, ganha. Mas em 90% do tempo, funciona. Elas respeitam-se, perguntam sempre se podem brincar com um determinado brinquedo, ou pintar com um lápis de cor que a outra não está a usar, com um “por favor” e “obrigada” a acompanhar. Brincam imenso juntas, verdadeiramente juntas, uma com a outra. Não sabem qual é o brinquedo de quem (nem eu para ser sincera). Respeitam-se, é o que eu quero.

E como se respeitam uma à outra, respeitam-nos a nós como pais, outros adultos e outras crianças. 

E perguntam vocês “e são crianças altruístas?”. Do mais altruísta e empático que existe. São as primeiras crianças a darem o seu brinquedo, quando vêem outra criança a chorar, mesmo que para isso, nunca tenha sido preciso ensinar a partilhar.

*fotografia de Sara Marilda