“De onde vem a carne?” – o que responder a uma criança de 5 anos
Eu não como carne há 2 anos. O resto da minha família come: as meninas comem, o pai delas e os avós também. Assim elas vão convivendo com estas duas realidades e para elas não faz diferença se o prato tem carne, ou só arroz e legumes (por exemplo). A Luísa, com 5 anos, já me questionou do porquê de eu não comer carne. Sempre lhe disse que era complicado de explicar e que iria arranjar uma forma de o fazer. Mas esta semana ela foi mais longe e fez-me a fatídica pergunta “de onde vem a carne?”
Tenho vários motivos porque não como carne, mas este post não servirá para explorar esse tema. O que interessa é que não como, sou saudável e vivo bem com esta situação. As miúdas sabem que não como, e sabem que quando não querem comer, podem não comer. Sabem que um prato sem carne ou peixe, é tão completo e nutritivo como um com. Nunca explorei com elas os meus motivos. São bastante complicados de explicar e para ser honesta, nunca arranjei forma de o fazer. Mas quando me perguntam de onde vem a carne eu tenho que lhes dizer a verdade.
A Luísa sempre foi uma miúda muito consciente sobre o que come. E esta semana começou a fazer uma série de perguntas sobre o tema carne:
– De onde vem a carne de vaca, mãe? Vem das vacas?
– Sim, vem.
(com um ar intrigado continuou) – E existe carne de porco?
– Sim, existe.
– E carne de cavalo?
– Também existe carne de cavalo, sim.
– E vem dos cavalos? (com ar de pânico sobre o seu animal preferido)
– Sim, vem dos cavalos.
– E de ovelhas? Existe carne de ovelha?
– Sim, existe carne de ovelha.
– E como tiram a carne?
(foi neste momento que percebi que ainda não estava preparada para aquela conversa e o meu ar de dúvida sobre o que responder, levou-a a continuar as perguntas)
– E vem com lã de ovelha agarrada, a carne de ovelha?
– Não, a carne de ovelha não traz lã.
– E como tiram aquela lã fofinha? Dói às ovelhas tirar a lã para a carne?
Fiquei sem resposta e fui salva por qualquer coisa que a distraiu naquele momento. Podia dizer que não, que não dói tosquiar as ovelhas, que é como cortar o cabelo. Mas sei que a resposta não iria ser satisfatória.
Sei que com a idade dela não fazia estas perguntas. Para mim era natural e obrigatório comer carne. Não sabia o que era uma refeição sem carne e nem sabia que era possível viver-se sem a comer. Por isso sei que com a idade dela nunca fiz esta reflexão.
Gosto que ela pense nisto e quero muito saber acompanha-la nos seus raciocínios sem impor o que penso e sinto. Quero ser imparcial, responder com sinceridade e verdade às suas questões. Se um dia ela e os irmãos deixarem de comer carne, será por conclusão e opção deles, e nunca por imposição minha. Não é uma tarefa fácil, mas vou gerindo como consigo, e como acredito ser melhor para eles. Mas esta história serviu para me mostrar que tenho de começar a pensar mais neste assunto, pois mais dia menos dia, ela voltará à carga com este tipo de perguntas!
E por aí? Já tiveram que lidar com esta questão com os mais pequenos? Contem-me como fizeram 🙂
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Olá Leonor, com as perguntas sobre a origem da carne ainda não…mas não há-de tardar e apesar de comer carne, não será fácil na mesma para mim explicar. Agora com a opção de não comer carne de uma das minhas filhas, lido quase todos os dias e ela demonstrou desde cedo não gostar da maior parte da carne, e penso que é simplesmente pelo sabor, não sei bem explicar, nem ela sabe ainda (5 anos também). Ando a investigar (e conto com a cadeira da papa 🙂 ) receitas para ela ter refeições mais equilibradas, pois tem muitas que não come proteína nenhuma (ou quase)…talvez tenha começado tarde, porque ela tornou-se muito pouco fã de experiências gastronómicas. Acho que quando ela descobrir como é que a carne chega ao prato, a deixa de comer de vez…Quando descobrires a forma de responder, partilha por favor <3
Por aqui não cozinhamos carne. O pai não come de todo, eu como fora de casa, quando não hà grandes alternativas. Comemos peixe e derivados, mas cozinhamos um bifinho de vez em quando para o nosso bebé de 20 meses. Quero ensinar-lhe o que é uma alimentaçao variada sem faltar nenhuma area alimentar. Mas tb me questiono se devo continuar a fazê-lo, ou se ele deve adaptar-se à “dieta familiar”. A verdade é que ele gosta e é a primeira coisa que come do prato, a carne e o peixe. É uma gestão complicada. Tb não saberia o que fazer numa situaçao dessas. Mas talvez deixar o papá responder às perguntas jà que come carne em casa. Acho que mais facilmente elaborará uma resposta sem sentimentos de culpa… A verdade é que as crianças têm antenas que percebem essas coisas…