açucar

A reportagem da SIC, “Somos o que comemos” ainda está a latejar na cabeça de muita gente, sobretudo pais e cuidadores de crianças. Já escrevi sobre este tema, mas haverá sempre muito a escrever, muito a dizer, e nunca será suficiente para  deixar bem presente o alerta do excesso de açúcar na nossa alimentação. 

Como disse anteriormente, a primeira coisa que fiz quando comecei a ter consciência dos perigos do açúcar, foi banir produtos processados cá em casa. “Tudo o que é processado e vem de pacote, tem açúcar”, diz a Pediatra Júlia Galhardo na reportagem. Não posso concordar mais. Começámos a achar natural e normal comer o que vem das prateleiras do supermercado, sem questionar. Porque razão venderiam algo que nos faz mal? Na verdade, não faz mal. Na verdade, a falta de bom senso do consumidor é que o prejudica. Um sumo uma vez por mês, não fará mal. Um sumo uma vez por dia, já fará. 

Olhar para o rótulo e procurar “açúcar”, não basta. O “açúcar” tem muitos nomes, como a Pediatra Júlia Galhardo referiu na reportagem: dextrose, maltose, maltodextrina, frutose, xarope de milho, e tenho mais uns quantos para acrescentar, sorbitol, galactose, lactose, polidextrose, manitol, xilitol… Muitos destes açúcares estão naturalmente presentes nos alimentos que ingerimos diariamente, mesmo os de origem orgânica: a fruta, os legumes, o leite e os cereais. Identificamos rapidamente a frutose e a lactose. A diferença, é que são açúcares complexos, que são ingeridos com as fibras dos alimentos que os possuem, e por isso de absorção mais lenta que os açúcares simples*. 

O “sem açúcar” é mito. Não existe tal coisa, a não ser no sal (e mesmo assim tenho as minhas dúvidas). Se diz “sem açúcar” e é doce, é porque tem “açúcar”. Muitas mães vivem na ilusão de dar bolachas sem açúcar aos filhos, achando assim, que será mais saudável. As bolachas podem não conter açúcar, mas de certeza que têm adoçantes e edulcorantes, e sinceramente, não sei o que é pior dar. Já sei o que estão a pensar… as bolachas de água e sal? Também têm açúcar! (incrível, hein?) 

Agora que já percebemos isto tudo, faz sentido, falar em não dar papas aos filhos por causa dos açúcares, quando depois se vão dar papas de fruta e bolachas? Mesmo, que sejam bolachas sem açúcar? Pois, foi o que pensei também: não! Podem-se fazer papas caseiras, tão fáceis, rápidas, saborosas, nutritivas e a palavra chave, saudáveis. Bastam cereais, água, e se quiserem fruta e leite. Assim simples!

Portanto, olhar para a distribuição nutricional, e ver a quantidade de açúcar que um alimento tem, pode não ser suficiente, se não soubermos de onde vem esse açúcar. Acaba por ser uma trabalheira, ter que andar a ler rótulos, atrás de rótulos, atrás de rótulos, quando era suposto confiarmos nas palavras “infantis”, “para bebés”, “para crianças” e “sem açúcar adicionado”. Eu como preguiçosa nata que sou para essas coisas, simplifico: compro ingredientes e faço eu mesma! Não dá tanto trabalho quanto isso, e aqueles minutos de descanso no sofá que se perdem, ganham-se em consciência ao deitar, sabendo o que enfiei na boca das minhas filhas.

Não sou dada a radicalismos e extremismos (tenho uma caixa de bolachas maria na despensa). Sobretudo, não sou dada a tomar-se acção durante uma semana, ou durante um mês. Sou apologista das melhorias que possamos fazer diariamente e que prevalecem para sempre. Prefiro o “a partir de hoje, (não) vou fazer isto”, mesmo que seja uma coisa pequenina, do que o “durante esta semana, (não) vou fazer isto” e acabando essa semana tudo volta ao mesmo.

Por isso todos os dias, quando olho para o meu frigorífico, despensa e mesa de refeição, pergunto: “o que vou mudar hoje?”. Um bom exercício para perceber o que devemos e não devemos comer, é perguntar-nos “o que isto me vai trazer de bom, na minha saúde e bem estar?” Já sei o que estão a pensar, uma tablete de chocolate dá um prazer do “caraças” a comer (se dá). Mas estamos a falar one day at a time. Um dia comerá a tablete inteira, depois só metade, até conseguir só comer um quadradinho, e ter o mesmo prazer. Disciplina e bom senso, é o que é preciso.

* Mesmo assim, devo deixar o alerta, que a fruta não deve constituir uma refeição isolada “pois o volume necessário para suprir as necessidades energéticas seria incomportável sob o ponto de vista de tolerância digestiva, devido ao elevado teor de fibra que poderia conduzir a desequilíbrios em micronutrientes por compromisso absortivo.” (in Acta Pediátrica Portuguesa Setembro/Outubro 2012). 

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