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Sou uma “papa” documentários e no que toca a alimentação, conheço a grande parte deles e não me canso de ver mais e mais. 

Cruzei-me com o “The Kids Menu” no Netflix, como sugestão por ter visto o “Fat, Sick And Nearly Dead” e o “Fat, Sick And Nearly Dead 2”. É realizado e produzido pelo mesmo autor dos dois últimos, Joe Cross, que desde o seu primeiro documentário tem viajado por todo mundo, motivando as pessoas a seguirem uma alimentação mais saudável. Foi durante essas viagens, que Joe Cross se deparou com o problema da obesidade infantil e resolveu investigar porque estava a acontecer e como podia ser revertido. 

O documentário retrata uma realidade, a americana, bem distante da nossa, portuguesa. Está documentado que mais de 60% do que é servido num prato de um americano são alimentos processados, e pouco mais de 10% são alimentos de base vegetal (legumes, frutas, leguminosas e cereais), sendo o restante prato dominado por alimentos de origem animal. Felizmente em Portugal, existe a cultura de cozinhar e cozinhar bem, de dar primazia a alimentos frescos e orgânicos em vez dos empacotados. Contudo, as nossas crianças são quem mais sofrem, com a oferta de papas de pacote, cereais de pequeno-almoço, bolachas e sumos. 

Afinal, qual é a causa para as más escolhas?

O documentário começa por retratar a causa da obesidade infantil, que Joe Cross não considera por si só um problema, mas como consequência de 3 problemas:

1. A falta de informação do que são alimentos saudáveis e de como devem ser preparados.

2. A dificuldade em ter acesso a determinados alimentos e a preços razoáveis.

3. A influência negativa dos exemplos para as crianças, sejam os pais, professores, ou mesmo os seu heróis de televisão. 

Estava prestes a escrever que não padecemos de um problema tão grave de obesidade infantil no nosso país, até que resolvi investigar e os números assustaram-me. 

“Estudos científicos sobre obesidade infantil em Portugal demonstram que mais de 35% das crianças com idades entre os seis e os oito anos têm corpulência excessiva (índice de massa corporal elevado para a idade e sexo) e que mais de 14% já são obesas.” 

in A Saúde dos Portugueses: Perspetiva 2015pela Direcção Geral de Saúde, Julho de 2015.

“[Nos Estados Unidos da América] Em 2011-2012, 8,4% das crianças entre os 2 e os 5 anos eram obesas, comparativamente com os 17,7% das crianças entre os 6 e os 11 anos e os 20,5% dos adolescentes entre os 12 e os 19 anos.”

in Prevalence of Childhood and Adult Obesity in the United States, 2011-2012, The Journal of the American Medical Association (JAMA), 2014

Assustador, não? Podemos não estar a consumir tanta comida processada como os americanos, mas alguma coisa de errada estaremos a fazer e este documentário elucida claramente para as soluções.

O que fazer?

Durante o documentário Joe Cross questiona médicos, chefs de cozinha, psicólogos, professores e mesmo crianças. Conclui que a forma de educar as crianças a fazer melhores opções (e prova que quando são dadas as ferramentas certas as crianças fazem as melhores das opções), passa por dois pontos importantes:

1. Ser um bom exemplo para as crianças, ser o modelo daquilo que desejamos que elas venham a ser. Se desejamos que comam fruta depois da refeição, não devemos obrigar a comer, mas sim a fazê-lo. As crianças admiram-nos e farão tudo o que fizermos. Devemos partilhar a refeição com elas, comer o mesmo com elas, só assim traçaremos a relação de confiança entre as crianças e a comida. Somos também responsáveis pelo que as nossas crianças convivem em casa, somos responsáveis pelo que compramos, confeccionamos e oferecemos em casa. Disso não nos podemos ilibar, serve para o bom e para o mau.

2. Envolver as crianças na alimentação. Seja desde plantar uma horta, ou uns vasos em casa, de ir ao supermercado comprar alimentos, à frutaria escolher a fruta e legumes, na preparação dos alimentos, na cozinha, todos os passos são fundamentais para construir uma boa relação entre as crianças e a comida. Nunca é cedo demais, nem nunca é tarde demais, dar alguma responsabilidade às crianças, seja de escolher alguns dos legumes e frutas que vamos levar para casa, ou mesmo de decidir o que vai ser o almoço ou o jantar. As crianças que sentem esse poder, automaticamente orientam-se para as boas opções (tenho dois exemplos em casa e garanto que funciona!).

Nada foi novidade para mim, mas foi bom ver tudo assim, “crystal clear”, tão claro e bem explicado que deu um gozo extra de ver. Está no top dos meus documentários preferidos e recomendo vivamente a verem!